Quando o outro deixa de ser ator com quem se contracena e se transforma
em parte do cenário? Quando um passa a se lembrar só do que o outro
esquece? Quando o outro presta atenção só no que o um deixa de fazer?
Por mais que a gente tente e insista, por mais que a gente queira e
se esforce, tem horas que as coisas deixam de se desenvolver. O relacionamento empaca e nos vemos em uma espécie de beco sem
saída emocional. Sabemos que as coisas não estão tão boas como antes.
Reconhecemos o desgaste. Percebemos o afrouxamento dos laços. E o que
fazemos? Nada. Seja por comodismo ou medo de ficarmos sozinhos.
Talvez, este seja um dos estados mais perigosos
que um relacionamento pode alcançar. Porque não o encaramos como uma
crise. Porque, ao invés de percebermos que algo vai mal, dispararmos
todos os alarmes que existem dentro de nós e partirmos para o ataque em
busca de uma solução para o problema, vemos esse “banho maria” como uma
etapa natural da relação. “É normal as coisas esfriarem depois de um
tempo”. Normal uma ova. Como diria a Dira Paes naquele comercial de
iogurte para quem tem problema para ir ao banheiro, 'normal é sentir-se
bem'.
Nunca é fácil terminar um relacionamento. Além do
medo da solidão, fica sempre aquela sensação de fracasso, de
incompetência para a vida. Por isso, muita gente resiste na hora de
colocar um ponto final em uma história que já perdeu o fôlego ou que não
conseguiu se reinventar. Sei lá, mas tenho a impressão que as pessoas
abrem mão da grande felicidade para não correr o risco de sentirem a
grande tristeza.
Acho que a palavra-chave aqui seja reinvenção. Somos mutáveis.
Nascemos para sermos diferentes a cada dia. Como um quebra-cabeça no
qual se adicionam novas peças o tempo todo. Manter-se em um
relacionamento estático, que não pulsa, e vibra, e se transforma na
medida em vamos nos tornando outras coisas é contrário a nossa natureza.
É como andar por aí arrastando uma bola de ferro presa aos nossos
calcanhares, justamente quando a elação deveria ser um trampolim que nos
joga para o alto, o corrimão que nos dá alguma segurança quando estamos
lá em cima e a rede de proteção que nos protege caso a gente caia.
Nem tudo nasceu para ser eterno. Eu diria que nada foi feito para
durar para sempre, mas isso só reforçaria a fama de pessoa amarga e
descrente que tem recaído sobre mim ultimamente e que não condiz com a
realidade.
Precisamos parar de encarar o fim como uma derrota e começar a
percebê-lo como parte do processo. Mesmo os casais que passam a vida
toda juntos se separam quando um deles morre. A separação nada mais é do
que a morte de dois amantes que renascerão para novas relações. Não é o
fim do mundo. É o fim da história de vocês. Não, não é nem o fim de uma
história. É o começo de outra.